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Dúvidas frequentes sobre microbiologia

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1. O que eu preciso saber sobre antimicrobianos?
Os antimicrobianos possuem atividade antibacteriana, antifúngica, antiparasitária, antiviral e antiblástica (usualmente utilizados no tratamento de neoplasias ). O resultado é a morte microbiana (microbiocida) ou causar inibição de crescimento (microbiostático). Existem antimicrobianos de largo espectro, que têm atividade contra diversos microrganismos, e os de curto espectro que agem contra poucas espécies e os específicos para determinados grupos bacterianos. Os antimicrobianos podem ser agrupados em betalactâmicos, aminoglicosídios, tetraciclinas, rimfamicinas, macrolídios,cloranfenicol, quinolônicos , sulfonamidas, trimetropim e metronidazol.

2. O que é a C.I.M (concentração inibitória mínima)?
Quando solicitado um cultivo bacteriano e antibiograma, a(s) bactéria(s) isolada(s) passarão pelo teste de sensibilidade. Um dos tipos de testes disponíveis para isso é a concentração inibitória mínima, onde determinado antibiótico é exposto a diferentes concentrações e a menor utilizada é capaz de inibir o crescimento bacteriano in vitro.

3. Quando eu devo solicitar um exame de hemocultura? E como a coleta deve ser realizada?

Quando existe a suspeita de bacteremia, geralmente o paciente está hospitalizado, existem evidências de outro foco infeccioso que pode evoluir para tal suspeita. Sinais como febre, taquicardia, taquipneia podem estar presentes.

A coleta deve ser feita em frasco específico fornecido pelo laboratório de microbiologia e a antissepsia da região deve ser o mais cuidadosa possível, evitando risco de contaminação da amostra com a microbiota cutânea. Mais de uma amostra pode ser colhida de diferentes veias, limitado a 3 amostras. Não coletar no pico febril pois pode haver morte bacteriana evidente durante este período. A amostra costuma ser incubada por 5 dias (negativa) e no caso de positividade o resultado parcial com coloração de GRAM é liberado e o cultivo, identificação e teste de sensibilidade aos antimicrobianos iniciado.

4. Para infecção do trato respiratório qual melhor material para cultura e antibiograma de secreção?
O lavado bronco alveolar é o mais indicado quando há suspeita de pneumonia bacteriana. Vale lembrar que trato respiratório superior é colonizado por diferentes tipos de microrganismos e a coleta do material pode ser contaminada por estes agentes presentes no local. Avaliar a clínica juntamente aos exames laboratoriais para o diagnóstico correto. Investigar as causas de base que podem estar favorecendo o aparecimento da infecção e avaliar o resultado junto as outras evidências encontradas. Muitas vezes as bactérias isoladas são pertencentes a microbiota local e não tem participação no quadro clínico.

5. A piodermite superficial é tratada apenas com antimicrobianos sistêmicos?

Não. O tratamento tópico é o mais indicado nas infecções por Staphylococcus em qualquer piodermite superficial, envolvendo MRS (Staphylococcus resistente a meticilina) e  também em secreção de feridas e otites externas. Pode ser utilizada como único tratamento, diminuindo a possibilidade de terapia sistêmica associada (resistência).

6. Nos casos de diarreia, quando o exame de coprocultura é indicado?

Quando há suspeita clínica de bactérias patogênicas como Salmonella, Shigella, Escherichia coli enteropatogênica ou até mesmo Clostridium. O trato intestinal é colonizado por milhões de bactérias e o isolamento bacteriano de amostras não diarreicas não é indicado. Pois a identificação de bactérias pertencentes ao microbioma local não é significado de doença.

7. Eu devo tratar um paciente onde o laudo de coprocultura deu positivos para enterobactérias?

Isso depende um pouco da suspeita clínica, do material colhido e enviado ao laboratório. A coprocultura é indicada quando há suspeita de infecção por bactérias enteropatogênicas em animais que apresentam quadros de diarreia. E sendo o trato intestinal colonizado por milhões de microrganismos, o isolamento de bactérias que fazem parte da microbiota normal não são indicativos de doença.

 

8. Por quanto tempo eu devo tratar uma cistite não complicada?

Geralmente o quadro clínico dura em torno de 7 dias, há evidência de bacteriúria na urinálise. Se for primo infecção, o tratamento empírico pode ser iniciado a base de antimicrobianos e a reavaliação do paciente deve ser constante, se possível em 3 dias. Em caso de melhora o ideal é avaliar a continuação do tratamento ou repetição do exame complementar e julgar a conduta mais apropriada.

 

9. O que são marcadores de resistência?

As bactérias utilizam estratégias para driblar a ação dos antimicrobianos, agindo com diversos mecanismos para aumentar a resistência a estes medicamentos. A resistência para um determinado antimicrobiano pode ser uma propriedade intrínseca ou adquirida. Na forma adquirida há alteração do DNA bacteriano, ocorre através de indução de mutação no DNA nativo e introdução de um DNA estranho que são transferidos entre gêneros ou espécies diferentes das bactérias.

 

10. Sobre as otites, quais os microrganismos mais frequentemente isolados?

A microbiota do conduto auditivo é composta por bactérias GRAM positivas como Staphylococcus coagulase positiva ou negativa, Corynebacterium spp., Streptococcus spp. e ainda leveduras como Malassezia spp. Estas bactérias podem estar associadas a doença sempre que haja uma causa primária envolvida como pólipos, pacientes com doenças de base como atopia, entre outros. O isolamento deste tipo de bactéria deve ser analisado junto a clínica do paciente e avaliado sobre o tratamento nestes casos. Já o isolamento de bacilos GRAM negativos é geralmente indicativo de infecção do conduto pelos mesmos motivos anteriores citados e ainda pela característica deste tipo bacteriano de produção de biofilme e secreção piogênica. Sendo, o tratamento sempre indicado nestas situações.

 

11. Qual a diferença entre sepse, bacteremia e SIRS?

A sepse é um conjunto de manifestações graves em todo o organismo produzidas por uma infecção. A sepse era conhecida antigamente como septicemia ou infecção no sangue. Hoje é mais conhecida como infecção generalizada.

 

Na verdade, não é a infecção que está em todos os locais do organismo. Por vezes, a infecção pode estar localizada em apenas um órgão, como por exemplo, o pulmão, mas provoca em todo o organismo uma resposta com inflamação numa tentativa de combater o agente da infecção. Essa inflamação pode vir a comprometer o funcionamento de vários dos órgãos do paciente.

 

Por isso, o paciente pode não suportar e vir a falecer. Esse quadro é conhecido como disfunção ou falência de múltiplos órgãos.

 

A bacteremia acontece principalmente de duas formas. Quando há uma ruptura da barreira de proteção do sistema circulatório, como a pele ou uma mucosa, e as bactérias que estão na superfície, sejam aquelas que já estão em nosso organismo como colonizadoras ou não, conseguem migrar para a corrente sanguínea. Isso pode acontecer durante um procedimento ou em ambiente hospitalar, em pacientes com acesso vascular, com cateter, por exemplo. Essa é a bacteremia primária, quando não há uma outra fonte de infecção.

 

A bacteremia secundária, por sua vez, é decorrente de outra infecção pré-existente. Uma infecção urinária ou uma pneumonia que não é bem controlada e consegue extrapolar o tecido e chegar na circulação, por exemplo.

 

Uma vez na corrente sanguínea, a bactéria pode se deslocar pelo corpo, se alojar em outros tecidos e causar infecções graves, como a meningite meningocócica ou a endocardite. O risco depende de pelo menos três fatores: a virulência da bactéria (ou seja, seu potencial de agressividade), a quantidade de bactérias que efetivamente caem na circulação e a imunidade do animal afetado. Assim, pacientes com sistema imunológico debilitado podem estar mais suscetíveis.

 

O conceito de SIRS (Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica) foi deixado de lado com as novas atualizações do Sepsis Surving Campaign (2016 e 2018), porém seus componentes (febre, taquicardia, taquipneia e leucocitose com desvio a esquerda) ainda possam ser utilizados na prática clínica para diagnóstico de uma infecção grave. Diante dessa questão, sugeriu-se a utilização do Sequential Sepsis-related Organ Failure Assessment (SOFA), um score que avalia disfunção de 6 sistemas do corpo através de exames laboratoriais.

 

12. A cultura e antibiograma é sempre necessária para o diagnóstico das infecções bacterianas?

A cultura é considerada o padrão ouro para isolamento e identificação das bactérias causadoras de diversas infecções e o antibiograma para o teste de sensibilidade aos antimicrobianos. Ela é sempre indicada quando há suspeita de infecção bacteriana e quando é possível colher material para o teste diagnóstico. Em alguns casos de primo infecção, infecções não complicadas ou ainda pacientes em que não é possível obter material para o cultivo, o tratamento empírico pode ser empregado sempre que a causa bacteriana for fortemente confirmada.

 

13. Eu, médico veterinário clínico, como devo utilizar a C.I.M  (concentração inibitória mínima), para a escolha de um antimicrobiano?

O uso da microbiologia automatizada na rotina laboratorial em medicina veterinária ainda é recente. Muito se especula sobre o uso da concentração inibitória mínima (CIM ou MIC) e o emprego desta ferramenta na rotina clínica. Sabe-se que os antimicrobianos têm diferentes pontos de corte frente ao agente bacteriano. Isto serve muitas vezes para o médico veterinário clínico escolher frente a CIM mais alta ou mais baixa, mas ainda sensível qual melhor antimicrobiano escolher e dentro da dose preconizada se ela será mais perto ao mínimo ou ao máximo para aquele paciente. Vale ressaltar ainda que esta escolha deve ser baseada também no sítio infeccioso, na farmacodinâmica e farmacocinética do medicamento, a via de administração e a posologia. Antimicrobianos intermediários podem ser utilizados quando se aumenta a exposição ao medicamento e os resistentes não devem ser utilizados.

 

14. O que se refere o termo “Uso racional de antimicrobianos”?

Atualmente muito se fala sobre o uso racional de antimicrobianos e cada vez mais surgem instituições, grupos e pessoas tentando conscientizar os profissionais da saúde a utilizarem os famosos antibióticos com responsabilidade. Isso quer dizer, que é nosso dever e dos nossos colegas de áreas saber avaliar e empregar este tipo de conduta para nossos pacientes. Saber se a doença é bacteriana, saber se existe indicação de uso, qual o melhor antimicrobiano para determinada doença e saber a hora de parar de usar. Atualizar-se para as novas diretrizes e acompanhar o paciente mais de perto é fundamental para o controle do uso destas medicações. Com isso, não só o paciente ganha, mas o planeta como um todo também.

 

15. Qual a diferença entre cultura de bactérias aeróbicas e anaeróbicas?

Microrganismos aeróbicos são aqueles que vivem na presença de oxigênio e os anaeróbicos na sua ausência. Existem ainda os anaeróbicos facultativos e os microaerófilos que podem crescem em ambas as atmosferas ou ainda em pequena quantidade de oxigênio. Devemos pensar que só encontraremos agentes anaeróbicos onde não existe oxigênio naquele local, como por exemplo abscessos. Ao solicitar o cultivo de ambos, a suspeita clínica deve ser evidente para o tipo correto de microrganismo.

 

16. Quando eu devo solicitar o exame de cultura de bactérias anaeróbicas?

Quando há suspeita clínica de agente bacteriano anaeróbico envolvido, como Clostridium por exemplo. O cultivo é feito em atmosfera anaeróbica e o tempo de crescimento costuma a ser mais lento.

 

17. Encaminhei uma amostra para urocultura em swab e o laboratório cancelou o exame, por quê?

Nos casos de urocultura é importante o padrão de crescimento para estabelecer a conduta clínica e avaliar junto ao método de coleta se trata-se de infecção bacteriana. Estas amostras são semeadas com alças calibradas e o valor é liberado em unidades formadoras de colônia por ml.

 

18. Para pesquisa de dermatófitos, qual melhor material para coleta?

O ideal é encaminhar amostra de pelame em coletor universal. O swab em Stuart não é aconselhado.

 

19. Qual o melhor antimicrobiano para o meu paciente?

O antibiótico ideal é aquele que atende a alguns requisitos individuais. Avaliar a clínica do paciente, o sítio de infecção, a via de administração e a posologia do medicamento. Hoje em dia não é mais indicado usar antibiótico de amplo espectro e sim o mais direcionado para a bactéria envolvida, e isso quando possível deve ser baseado nos resultados de cultivo bacteriano e antibiograma.

 

20. Quando antimicrobianos injetáveis são indicados?

São indicados em infecções graves, em pacientes geralmente hospitalizados e por via endovenosa. A escolha de antimicrobiano injetável não deve ser apenas pela facilidade de administração, o uso de drogas hospitalares em quadros considerados simples, podem trazer prejuízos futuros ao paciente e contribuir para resistência bacteriana.

 

21. O que eu devo saber quando eu tenho uma suspeita de actinomicetos aeróbicos?

Sobre os actinomicetos, é importante levar em conta que o crescimento em culturas bacterianas pode ser lento. Deve-se sempre avisar o laboratório de microbiologia sobe a suspeita clínica, onde este material deverá ser incubado por um período maior, até 7 dias. No caso de micobacteriose o ideal é que o cultivo seja feito em laboratório de biossegurança nível 3 e que possua meios específicos para o isolamento. Estas agentes são de longos tratamentos com antimicrobianos, de até 6 meses após a remissão dos sintomas.

 

22. Quais pontos devem ser levados em conta para um diagnóstico de excelência?

Um bom exame clínico seguido de  anamnese e exame físico tornam a suspeita diagnóstica bastante evidente. Quando solicitados exames complementares para a confirmação da suspeita, o resultado tende a ser compatível com a clínica e ambos avaliados em conjunto favorecem o fechamento do diagnóstico. Ocorre então, o estabelecimento do mais adequado tratamento e um excelente prognóstico para o paciente.

 

23. Quando o uso de antibióticos não é indicado?

Em casos de infecções causadas por microrganismos não bacterianos, como vírus, fungos e protozoários.

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